“Got To Be There”


“Got To Be There”

 

  

Os promotores mostraram aos jurados revistas adultas e outros materiais adultos tirados de Neverland no intuito de corroborar a acusação de que Jackson era obcecado por sexo.


A promotoria acusaria Jackson de mostrar esse material aos garotos Arvizo na tentativa de estimulá-los. O xerife de santa Bárbara testemunhou que eles classificaram pilhas de fotografias e livros de arte, todo o tipo de revistas e recordações de cinema, tudo que estava espalhado pela suíte de Michael, banheiro e escritórios. Algumas das revistas adultas que eles encontraram estavam em duas maletas trancadas, escondidas debaixo da cama de Michael. Outro tipo de material foi encontrado no quarto de Michael, próximo à jacuzzi e a lista continuou. Aparentemente Michael tinha gosto por pornografia.

O detetive Paul Zelis testemunhou que ele encontrou uma revista adulta na cabeceira de Jackson. Ele mostrou a foto de uma garota nua misturada a fotografias de dois bebês em fraldas, uma criança em uma banheira e um cachorrinho. O jeito como isso foi apresentado, a combinação fazia Michael parecer confuso. Mas quando mais evidências “adultas” foram colocadas diante do júri, enquanto as pessoas ficaram lá olhando as imagens de fêmeas, as pessoas sentiram que as imagens faziam Michael parecer mais como um cara normal. O fato de Michael gostar de olhar fotos de garotas nuas era novidade para muitos dos observadores no tribunal.

Quanto à evidência de digitais, a promotoria alegou que pelo menos uma revista adulta apresentava a digital de ambos, Michael e Gavin. Mas o detetive Zelis depois admitiu que o lote de revistas apreendidas em Neverland não foi checado para impressões até elas serem apresentadas na audiência do Grande Júri, em março de 2004, quando Gavin testemunhou. O time de Jackson estava completamente capaz de alegar que as impressões de Gavin foram gravadas nas revistas adultas durante o procedimento do Grande Júri, principalmente porque Zelis não tinha certeza se Gavin tinha ou não manipulado a revista durante o testemunho dele para o Grande Júri.

Paul Zelis sob interrogatório do advogado de defesa, Robert Sanger, foi forçado a admitir que Gavin tinha dado à polícia diferentes versões de quando os abusos aconteceram. Para o detive Zelis, Gavin originalmente disse que o abuso sexual aconteceu antes de ele fazer o vídeo refutação em 20 de fevereiro de 2003. Algum tempo depois, Gavin diria à polícia que o abuso aconteceu depois do vídeo refutação.

Outro forte testemunho veio do detetive de Santa Barbara, Steve Robel, que contou ao júri que Gavin chorou quando ele contou sobre o abuso pela primeira vez. Robel era o investigador no comando do caso e ele explicou que o comportamento de Gavin mudou quando ele falou sobre abuso sexual, dizendo ao júri que o garoto ficou “muito quieto” e, depois, “ficou um pouco engasgado”.

A entrevista que Gavin Arvizo deu à polícia foi gravada e antes do final do julgamento, foi introduzida como evidência. Foi uma dramática confissão, que poderia significar o prego que prenderia Michael na cruz. Nela, Gavin explicou para Robel e Zelis que ele “sabia o que era certo e errado”. Embora Gavin parecesse um pouco receoso, com medo de falar qualquer coisa que fosse considerada errada, ele finalmente veio com alguns exemplos.

Não escutar sua mãe: é um exemplo.

Matar alguém: é errado.

Gavin contou a polícia sobre a longa conversa que ele e Michael tiveram quando ele ainda estava de cama. O garoto disse que eles falaram a maior parte sobre vídeo games, programas de TV favoritos e celebridades. Ele descreveu um tempo dele em Neverland dizendo que ele e o irmão “atacavam a cozinha” todas às noites, preferindo ficar com Michael na casa principal a dormir nas unidades de hóspedes escolhidas para eles.

Gavin estava claramente desconfortável enquanto estava sentado com a polícia, que o chamava de “amiguinho” e fazia-lhe perguntas indutivas. Robel e Zelis tentaram fazer Gavin se soltar falando sobre aniversários, esportes e notas escolares e Gavin, que naquele momento tinha 13 anos de idade, eventualmente falou sobre a amizade dele com Michael Jackson, explicando para a polícia que algumas vezes, Michael o tinha desapontado. Gavin parecia chateado, relatando que Michael tinha dado à família dele um caminhão uma van GMC, mas que, mais tarde, quando a van quebrou, Michael a tomou.

Gavin estava visivelmente hesitante, mas ele detalhou o abuso sexual, embora o garoto tenha dito à polícia que ele não “estava certo” sobre o que ejaculação era. Gavin disse que ele nunca viu as partes íntimas de Michael, mas se lembrou de que Michael tinha passado por ele uma vez, nu, enquanto Michael andava pelo quarto dele.

Na entrevista gravada, Gavin disse à polícia que o abuso sexual aconteceu por quatro a cinco minutos, o que era uma inconsistência que o time de defesa mais tarde atacou. Sob o interrogatório da defesa, Steve Robel testemunharia que Gavin “não pode articular exatamente o que aconteceu”, afirmando apenas que Gavin “foi específico sobre dois eventos dos quais se lembrava”.

A atmosfera no tribunal tornou-se mais leve quando uma ex-empregada de Michael, Kiki Fournier, que trabalhou em Neverland de 1991 a 2003, relutantemente, subiu à tribuna para testemunhar. Quando ela olhou para o superstar, Michael se recusou a reconhecê-la. Com o peso do mundo sobre os ombros dela, Kiki parecia tímida. Ela respondeu às primeiras questões rapidamente, com respostas curtas. Ela parecia assustada, mal podia ser ouvida e à empregada foi pedido que se aproximasse do microfone. Kiki estava claramente nervosa sobre o testemunho dela e não estava feliz por revelar segredos de Michael.

A senhorita Fournier contou ao júri que ela tinha trabalhado para Michael, “intermitentemente” durante doze anos, explicando que ela tirou poucos anos de folga quando ela teve um filho e deixou Neverland de forma amigável, no final de 2003. O trabalho dela consistia em cuidar dos hóspedes de Michael, limpando as unidades de hóspedes, pondo em dia com a lavanderia, às vezes servindo comida; e basicamente fazer tarefas domésticas.

No começo de testemunho, Kiki disse ao promotor assistente, Gordon Auchincloss, que ela não tinha a nada a ver com o caso. No banco de testemunhas, Kiki deixou claro que ela estava infeliz por estar no meio daquelas acusações, que ela não gostava de ficar sob os holofotes. Ela não gostava de ser o centro das atenções. Kiki Fournier era uma mãe muito trabalhadora, uma mulher de rosto muito honesto, que disse ao júri que gostava da privacidade dela.

Pediram a Kiki para falar sobre as exigências de Michael a ela, sobre a segurança no trabalho dela, se alguma vez Michael tinha ameaçado demiti-la. Kiki contou aos jurados que, na maior parte do tempo, Michael daria ordens diretas e ela ficava feliz em servi-lo. Ela disse que ela nunca foi demitida e falou sobre a hierarquia em Neverland. O chefe imediato dela era Joe Marcus, o administrador do rancho, Jesus Salas, administrador da casa e Violet Silva, a cabeça da segurança. Kiki disse que nunca viu Michael demitir pessoal. Ela explicou que, se as coisas não estivessem como o desejado, Michael teria os desejos dele “comunicados” a alguém da equipe.

Kiki falou sobre Frank Cascio, amigo de longa data de Michael, que também trabalhou para Michael como um tipo de “assistente”. Kiki não tinha certeza sobre qual era exatamente o título de Frank. Kiki apenas sabia que Frank tinha sido um acessório de Neverland por cerca de dez anos e alegava trabalhar para Michael. Kiki tinha pouco a dizer sobre os “associados” de Michael, principalmente aquelas pessoas em torno dele durante a primavera e o verão de 2003. Além de Frank, ela veria “homens de negócios” com Michael “bastante”, mas ela não tinha certeza sobre qual era a posição deles.

Os quarto associados sobre quem Kiki respondeu perguntas foi Dieter Weisner, Ronald Konitzer, Vincent Amen e Marc Shaffel, todos os quais foram nomeados como co-conspiradores, não indiciados.

Kiki se lembrou de que aqueles homens estavam todos em Neverland em novembro de 2003e ela testemunhou sobre os preparos para uma grande festa de aniversário que seria feita para Michael, com Marc Shaffel coordenando o evento. Kiki não tinha muito a dizer sobre a festa de Michael, a não ser que, pelos padrões de Jackson, era, talvez, um simples evento. Não havia nada de especial de que Kiki pudesse se lembrar sobre a celebração do aniversário de Michael: sem performances especiais, sem convidados especiais. Kiki testemunhou que Michael tinha um DJ, um bolo gigante, alguns trabalhos artísticos à mostra em tendas e cerca de mil convidados.

Para Kiki, o evento significava trabalho extra e limpeza extra. Na perspectiva dela, as coisas não eram tão divertidas em Neverland. Sempre havia muito trabalho a fazer, especialmente necessidades a serem atendidas. Kiki disse ao júri que ela trabalhava mais na parte da noite e explicou que o administrador do rancho, Joe Marcus, era responsável por todo o pessoal em Neverland. Kiki disse que recebia as instruções de Jesus Salas, a pessoa a quem Michael Jackson “dava instruções” em casa e descreveu Michael como uma pessoa “detalhista”, que gostava de ser servido “do jeito que ele queria”. A empregada disse que os empregados em Neverland trabalhavam especialmente duro, sempre que Michael estava na propriedade.

Sob interrogatório de Gordon Auchincloss, que foi arrogante com a maioria das testemunhas, mas parecia ser de fala macia com Kiki Fournier, a empregada começou a descrever o tipo de hóspedes que ela tinha visto em Neverland por anos.  Ela disse aos jurados que crianças passavam a noite na casa de Michael “muito” e testemunhou que milhares de crianças visitaram Neverland durante o emprego dela lá, algumas com os pais, outras sem. Com o estímulo do promotor, a empregada descreveu Neverland como um ambiente permissivo, como um ambiente que permitia às crianças serem mal comportadas, especialmente se os pais delas não estavam.

Enquanto ela detalhava a rotina de Neverland, Kiki disse que crianças comeriam doces, passeariam nos brinquedos do parque, assistiriam a vídeos, jogariam video games e ficariam acordadas até tão tarde quanto elas quisessem. Kiki explicou que não havia realmente nenhum regra em Neverland, contando ao promotor que não havia realmente nenhuma disciplina de que falar. Para os ouvintes no tribunal, a impressão era de que Michael não queria reprimir crianças.

O promotor estava desenhando um retrato que fazia Michael aparecer um adulto destrutivo, imprudente. E estava funcionando, na maior parte, até Kiki começar a adicionar os próprios comentários dela sobre como Michael ficava chateado se as crianças “ficavam muito desordeiras” na mesa do jantar. Kiki contou aos jurados que houve certos momentos em que Michael disse às crianças que se comportassem. Por exemplo, ele não permitia guerras de comida no jantar e ele não permitia guerras de doces no cinema, pequenas coisas assim.

No geral, Kiki admitiu, Michael parecia dar às crianças muita liberdade em Neverland. Ela descreveu crianças em Neverland como tendo “rédeas soltas” para fazer tudo que lhes agradassem. Na maior parte do tempo, Kiki pensava que as crianças em Neverland eram desordeiras e “indisciplinadas”. Kiki testemunhou que as crianças que passavam a noite sempre recebiam uma unidade de hóspedes, mas, tendo acesso a toda a propriedade, elas usualmente iriam preferir dormir com Michael, na suíte principal dele.

Kiki descreveu a interação dela com as crianças que eram os convidados preferidos de Michael em Neverland, mas ela parecia relutante em testemunhar, mantendo os olhos afastados do superstar. Quando perguntada se ela alguma vez tinha notado “mudança” nas crianças que interagiam com Michael, Kiki admitiu que, na opinião dela, as crianças pareciam mudar em tornou de Michael.

“Eles reinavam livremente”, Kiki disse ao júri, “eles se tornavam muitíssimo selvagens, e, de certa forma, destrutivos”. A empregada explicou que esse tipo de mudança comportamental não era incomum e era algo que ela tinha percebido com Gavin e Star Arvizo, os quais ela veio a conhecer quando eles foram hóspedes de Michael Jackson, na primavera de 2003. Kiki testemunhou que quando os Arvizos primeiro chegaram a Neverland, Gavin e o irmão dele eram “muito educados”, mas disse que depois de um tempo, Gavin e o irmão dele ficaram “menos bem comportados”.

Quando Kiki foi questionada sobre se Michael “escolhia” certos convidados para dar atenção, a empregada detalhou uma lista de garotos que incluía Gavin Arvizo, Brett Barnes, Aldo Cascio, Wade Robson, Jimmy Safechuck, Jordie Chandler e Macaulay Culkin. A empregada disse ao júri que a lista de garotos com quem Michael tinha amizade, com quem ele formou um “laço especial”, era todos de certa idade: alguma coisa entre dez e quinze anos.

Kiki Fournier testemunhou que ela observou Michael beber vinho durante o período de 2002 a 2003, afirmando que a bebida de escolha dele era vinho e, às vezes, vodka. Embora ela não pudesse dizer que ela tivesse alguma vez visto Michael servir álcool a um menor, a empregada disse ao júri que ela testemunhou crianças em volta de Michael que pareciam intoxicadas. Kiki se lembrou de um jantar em setembro de 2003 , quando Michael estava à mesa com quatro ou cinco crianças das quais, três, ela “acreditava” estar intoxicados.

É claro, Kiki não poderia ter certeza de que as crianças estavam bebendo álcool. Ela assegurou aos ouvintes no tribunal que ela nunca havia servido álcool às crianças, ela própria. Kiki queria que o júri soubesse que ela não era responsável por manter as crianças na linha, que ela não os estava vigiando, nem os tinha visto bebendo álcool.

Enquanto Kiki qualificava as responsabilidades dela, Mesereau objetou ao testemunho, sob o argumento de que era especulação e o juiz concordou.

O juiz Melville advertiu o júri a desconsiderar o testemunho sobre crianças estarem intoxicadas à mesa de jantar de Michael, por uma razão, o incidente do qual Kiki estava falando tinha ocorrido depois que os Arvizos tinham deixado Neverland, já havia meses. Mas, o mais importante, enquanto Kiki estava sentada lá, em frente ao júri, sendo pedida para se lembrar de qualquer outro incidente, onde crianças pareciam estar bebendo álcool com Michael Jackson, Kiki não pôde se lembrar de nem um incidente específico onde ela pudesse dizer, com certeza, que crianças as crianças em torno de Michael estavam intoxicadas de verdade.

Crianças se tornaram selvagens, eles se tornaram hiperativas. Eles podem, às vezes, ter parecido intoxicados. Mas Kiki não podia oferecer nenhuma prova. A empregada não podia substanciar as alegações da promotoria.

No interrogatório para defesa, Mesereau perguntou a Kiki sobre uma frequente jovem fêmea convidada de Michael, Marie Nicole Cascio, irmã caçula de Frank Cascio, que passava tempo bem considerável em Neverland. O júri soube que Marie Nicole Cascio era alguém que passava muito do tempo dela no quarto de Michael. Marie Nicole estava quase sempre lá, com os irmãos dela, Aldo e Frank e ela estava em Neverland durante o mesmo período de tempo que os meninos Arvizos estavam.

Embora Marie Nicole fosse alguém que a promotoria convenientemente esqueceu-se de mencionar, Kiki descreveu a família Cascio (Frank, Aldo e Nicole), como “convidados regulares” de Michael. Esta é uma família que tem passado muito tempo em Neverland, que passavam o Natal com Michael, que estiveram “muito próximos” a Michael por anos. Como Kiki relembrou, Michael passava mais tempo com os Cascios que com a família Arvizo. Isso foi algo que ela percebeu durante a visita da família Arvizo.

Quanto a outras crianças, Kiki falou sobre ônibus cheios de crianças que visitaram Neverland durante os doze anos dela lá, descrevendo milhares de crianças que chegaram a Neverland vindo do interior, todas as quais vinham passar um dia de pura diversão e brincadeiras, normalmente com apenas poucos adultos escoltando um grande grupo. Kiki disse que não era trabalho dela supervisionar aquelas crianças. O trabalho dela era limpar e servir.

Tal como era com todas as crianças que visitavam Neverland, Kiki confidenciou que as crianças do interior se tornariam selvagens e desordeiras, especialmente quando eles viam o elefante caminhando pela propriedade e quando eles eram deixados soltos nos brinquedos do parque. Kiki disse aos jurados que a “maioria” das crianças se tornaria “selvagem” nos brinquedos e atirariam doces e agiriam à típica moda de crianças.

Kiki também testemunhou que, na maioria das vezes, o grande grupo de crianças que visitava Neverland não tinha a chance de conhecer Michael. Às vezes Michael estava disponível para brincar com as crianças, mas porque Michael permitia que crianças visitassem a casa dele durante todo o ano, ele estar fora da cidade, ou indisponível, impediria o contato “em pessoa”.

Quanto ao relacionamento do superstar com os associados dele, Kiki admitiu que ela não tinha certeza de qual era realmente a posição de Ronald Konitzer e Dieter Weisner na verdade ocupavam, nem estava certa sobre o que Frank ou Marc Shaffel estavam fazendo com Michael Jackson. Kiki estava no escuro sobre os associados de Michael. Ela tinha a impressão de que eles trabalhavam para Michael, mas ela não tinha certeza. Kiki apenas pôde descrevê-los como “homens de negócios”.

Ela pensava que aqueles homens poderiam ser “promoters”, ou algo assim, mas, obviamente, ela não tinha nenhuma informação de primeira mão sobre o que aqueles homens tinham a ver como trabalho de Michael. A única coisa de que Kiki podia se lembrar era que Dieter estava no negócio da fábrica de “bonecos Michael Jackson”, embora ela não estivesse certa sobre onde essa empresa estava localizada, nem mesmo sabia se Michael estava ciente de que esse negócio existia.

Com exceção de Frank Cascio, que ela pensava que estava “tentando entrar nos ramo da música”, Kiki descreveu os homens que estavam em torno de Michael Jackson (Dieter, Weisner, Ronald Konitzer e Marc Shaffel) como homens que pareciam “aparecer e desaparecer” sem nunca falar muito. Ela não tinha conhecimento sobre a parceria ou o verdadeiro ramo de empreendimentos que aqueles homens tinham com Michael. Na visão dela, todos aqueles homens sentiam-se importante por apenas por “relacionarem-se” com Michael. Em particular, ela pensava que Marc Shaffel era um “oportunista”.

“Ele (Shaffel) era um dos muitos oportunistas com quem você se esbarrou enquanto trabalha em Neverland, certo”? Mesereau perguntou.

“Sim”, Kiki disse.

“Agora, se Dieter estava dizendo coisas a Michael, você não sabe o que era, certo?”

“Não.”

Kiki não sabia nada sobre o que estava ou não estava sendo comunicado a Michael por aqueles homens. Da forma como Mesereau colocou as perguntas dele, parecia provável que aqueles homens em volta de Michael, os associados dele, não estavam necessariamente agindo com o total conhecimento ou cooperação de Michael. Kiki disse aos jurados que, com exceção de Frank, aqueles homens poderiam aparecer de vez em quando, então desaparecer, relembrando que a visita deles era “imprevisível”.

Embora ela tenha trabalhado em Neverland por muitos anos, parecia que Kiki não sabia realmente muito sobre a intimidade de Michael Jackson. É claro, o trabalho de Kiki era apenas saber pequenos detalhes sobre Michael, como quando ele estaria usando o cinema, ou quando ele precisaria do chão encerado. Ela tinha respeito pelo superstar, mas, mesmo depois de todos aqueles doze anos em torno dele, Kiki não era capaz de explorar o lado criativo de Michael. Kiki poderia observá-lo o tempo todo, mas ela nunca chegou a conhecer Michael. Em termos do que deixava Michael realmente aborrecido, ela apenas pode dizer que, o que ela sabia sobre Michael é que ele gostava de ficar sozinho com os pensamentos criativos dele.

Durante anos. Kiki tinha visto Michael entrar no estúdio de dança dele e trabalhar na coreografia e música. Kiki tinha visto o superstar caminhando pela propriedade, sozinho; caminhando solitariamente pela propriedade, na escuridão, em muitas noites, subindo na árvore especial dele. Mas Michael continuou a ser, para sempre, um enigma.

Enquanto ela testemunhava, o júri soube que Michael não estava no controle dos detalhes do dia a dia em Neverland. Michael viajava muito e, algumas vezes, poderia ficar fora por meses. O que ficou claro foi que Michael tinha criado Neverland para ser administrada por diversos empregados de longa data. Ele tinha de cinquenta a sessenta pessoas trabalhando na casa dele em tempo integral, empregados com tarefas específicas: o tratador de animais, a patrulha de segurança, o corpo de bombeiros, a equipe doméstica, os cozinheiros; a lista era longa. Cada um deles se reportava ao administrador do rancho e tinha pouco contato com o próprio Michael.

Kiki disse ao júri que mesmo se houvesse um problema ou um incidente em Neverland, os membros do pessoal não iria até Michael falar sobre isso. A assistente dele de longa data, Evvie, a babá de confiança dele, Gracy e o administrador do rancho, Joe, eram as únicas pessoas que tinham acesso imediato a Michael. Todos os outros faziam relatórios, o que mantinha Jackson alheio ao que realmente estava acontecendo na casa dele.

Enquanto Mesereau estava fazendo a Kiki inúmeras perguntas sobre o testemunho anterior dela, Kiki confirmou que superstar tinha um “relacionamento” familiar com todo o grupo Cascio: Frank, Marie Nicole e Aldo; assim como com os pais Cascio. Quanto aos outros jovens garotos que Kiki tinha mencionado: Jimmy Safechuck, Jordie Chandler, Wade Robson; o júri soube que todos os jovens amigos de Michael visitavam o rancho na companhia da família deles. Mesereau fez um ponto para perguntar se Kiki se lembrava de que Jimmy Safechuck tinha se casado em Neverland, mas Kiki parecia não saber nada sobre isso. A empregada sabia, porém, que Macaulay Culkin e a família dele sempre vinham visitar, que outras famílias de celebridades também visitariam, incluindo a família de Marlon Brando, a família de Tommy Hilfigers e a família de Chris Tucker. Kiki não pôde se lembrar de todos os amigos celebridades de Michael, mas sabia que muitos jogadores famosos de basquete visitaram, em particular, ela mencionou ter visto Elisabeth Taylor e Chris Rock na propriedade.

Kiki falou sobre as várias funções que Michael tinha em Neverland, ela sempre limpava e servia nos casamentos, nas festas de aniversário e outros eventos especiais. Quando o júri escutou, eles aprenderam que o superstar era muito generoso com a casa dele, permitindo que os convidados caminhassem livremente pela casa principal para olhar para as obras de arte dele e as antiguidades, permitindo às pessoas acesso aberto ao mundo particular dele. Mesmo que a festa estivesse sendo realizada em outra parte da propriedade, se um indivíduo pedisse para fazer um passeio pela cada principal, o pedido era concedido. Kiki disse que ela pensava que Michael era muito generoso e muito legal com as visitas dele.

Kiki descreveu Michael como sendo uma “criança grande”, que gostava de andar em brinquedos do parque e comer muito doces com as crianças que visitavam Neverland. Ela disse ao júri que Michael parecia gostar de brincar com crianças, que ela parecia gostar de todo o espírito de Neverland. Quando o assunto do álcool foi reintroduzido por Tom Mesereau, Kiki disse que em todo o tempo que ela trabalhou no lugar, um período de doze anos, ela nunca viu Michael Jackson dar nenhum tipo bebida alcoólica a nenhuma criança. Quando pressionada sobre esse tema, a empregada honestamente não pôde dizer que ela tivesse visto os meninos Arvizo intoxicados na propriedade.

Enquanto ela testemunhava, Kiki disse que durante o período de tempo entre fevereiro e março de 2003, quando a família Arvizo esteve em Neverland por várias semanas, a recuperação da saúde de Gavin parecia completa. De olhar para o rosto de Kiki, parecia que na opinião da empregada, a nova saúde de Gavin, não foi nada menos que um milagre.

“Certo, você alguma vez viu a família Arvizo andando em uma limousine?” Mesereau perguntou.

“Eu sei que eles eram buscados por veículos do senhor Jackson, às vezes”, Kiki disse.

“Certo, descreva os veículos, se você puder.”

Rolls-Royce. Eu sei que ele tem um Navigator azul. Apenas, carros diferentes.”

“No seu entendimento, aqueles garotos (Arvizos), exigiam ser pegos naqueles veículos?” Mesereau perguntou.

“Eu não sei sobre isso.”

“Certo. Você via muito a (Arvizo) mãe?”

“Não. Não muito. Ela basicamente ficava na unidade de hóspedes dela.”

“Você alguma vez a viu no teatro?”

“Não posso me lembrar se a vi no teatro ou não.” Kiki disse.

“E quanto à casa principal?” Mesereau cutucou.

“Sim.”

Kiki se lembrou de que Janet Arvizo passava muito tempo na casa principal, que ela normalmente viria Janet jantando na copa, à noite e também veria Janet tomando café da manhã lá, de manhã.

“Está bem. Agora, você indicou que houve momentos em que você cozinhou para a família Arvizo, correto?” Mesereau quis saber.

“Eu cozinhei para eles? Eu não me lembro.”

“Você se lembra de Star puxar uma faca para você, na cozinha”?

“Sim.”

“E quando Star puxou uma faca para você, na cozinha, você estava preparando comida?”

“Eu estava lavando os pratos,” Kiki explicou.

“Certo. E ele estava tentando cozinhar na cozinha?”

“Sim.”

“E isso é contra as régras?”

“Bem, apenas não é realmente prudente ter uma criança lá, cozinhando com todo mundo,” Kiki disse. “Porque isso é meio que, você sabe. Além disso, você tem coisas que você tem que fazer; então você tem que trabalhar também.”

Quando as questões se tornaram mais específicas, Kiki ficou hesitante, evitando dizer qualquer coisa que a fizesse parecer idiota. Kiki não estava feliz por ser questionada sobre Star Arvizo brincar com uma faca. Ela não queria cooperar com a promotoria, ela não queria divulgar nada pessoal sobre ela. Kiki Fournier não queria dizer a Mesereau nada mais do que ela já tinha dito.

No testemunho dela para a promotoria, Kiki disse ao júri que ela “pensou” que os meninos Arvizo estavam intoxicados em Neverland, porém, no testemunho para a defesa, ela teve que admitir que ela tinha visto a porta da adega destrancada e aberta várias vezes. Com a vívida descrição de Kiki sobre uma porta aberta da adega, uma porta que fica localizada na arcade, longe da maioria do pessoal da casa, Mesereau tinha plantado a semente na mente dos jurados. Era bem possível que os meninos Arvizos tivessem entrado sem pedir no esconderijo secreto de Michael.

Kiki desejava explicar ao júri que não era trabalho dela tomar conta da adega. Ela queria que o júri soubesse que a vida ocupada dela e o horário agitado a impediam de ser preocupar muito com os meninos Arvizos. Porém, quanto mais Kiki protestava, mais claro ficava que os meninos Arvizos estavam livres para andar por Neverland, que eles estavam aprontando e se aproveitando da situação. Kiki estava dando desculpas por não ter prestado muita atenção aos meninos Arvizo. Ela disse que ela era uma acadêmica de meio período na primavera de 2003 e explicou que ela tinha muito trabalho para fazer em Neverland, que ela tinha trabalhos específicos a fazer e estava muito ocupada para se preocupar com cada pequeno movimento dos Arvizos.

Com Mesereau pontuando uma lista de questões, as respostas de Kiki não estavam apenas fazendo a família Arvizo parecer desagradável, estavam começando a fazer a família Arvizo parecer meio que conflituosa. Por exemplo, Kiki testemunhou que ela sempre viu as crianças Arvizo comendo o jantar na sala de jantar com as crianças Cascio e que, às vezes, Janet se juntaria ao grupo. Porém, ela pontuou que Michael quase nunca estava presente à mesa para refeição, que ele não estava por perto das crianças Arvizos tanto quanto eles podiam ter sugerido.

Kiki descreveu o balcão que Michael tinha próximo à cozinha, onde comida podia ser pedida a qualquer hora do dia, completo com um quadro negro com menu listando a “especialidade” do dia e uma equipe que estava preparada para atender aos caprichos de todos. A cozinha de Michael era completamente aberta aos convidados dele, vinte e quatro horas por dia. Kiki disse que as pessoas eram livres para fazer pedidos de um menu que tinha três listas de refeições cada dia, ou eles poderiam fazer pedidos especiais. Os convidados podiam pegar donuts e muffins caseiros, sem pedir e disse que Michael mantinha um enorme refrigerador com sucos refrescantes, todos os tipos de bebidas, garrafas de água e vinho. Ela se lembrou de que os meninos Arvizo eram rápidos em pegar sem pedir, qualquer coisa que eles quisessem.

“Aproximadamente duas semanas antes de os Arvizos partirem de uma vez por todas, você percebeu que o quarto de Gavin e de Star estava constantemente bagunçado, certo?” Mesereau perguntou.

“Sim.”

“E isso indicou a você que eles estavam ficando naquele quarto, certo?”

“Eu pensei que eles estavam. Mas eu não sei se eles estavam ou não.”

“Mas houve um período quando você sempre veria que o quarto deles estava bagunçado, correto?”

“Sim. Eu quero dizer, eles eram desleixados. E perto do fim, o quarto deles estava... coisas quebradas e era uma bagunça.”

Kiki teve que admitir que o quarto dos garotos Arvizo estava um desastre e que ela e outra empregada, Maria, decidiram fazer uma reclamação ao administrador da casa. Kiki disse ao júri que os meninos Arvizo tinham “destruído o quarto”, que o quarto deles “simplesmente estava em pedaços”.

“Por favor, diga ao júri como eles destruíram o quarto, se você sabe” Mesereau perguntou.

“Eu não posso dizer com certeza o que aconteceu, mas havia coisas derramadas. Havia vidros quebrados. O refrigerador estava uma bagunça, também. Todas as unidades tinham o próprio refrigerador e estava... simplesmente parecia que alguém tinha entrado lá como um tornado... como um redemoinho.”

Kiki disse que ela não tinha falado com os meninos Arvizo sobre isso porque não era “o lugar dela” fazer isso. Ela disse que foi até o mordomo, Jesus Salas, e apresentou uma queixa porque os meninos Arvizo tinham deixado comida e lixo por todo o quarto, eles tinham quebrado coisas. Aparentemente eles tinham mudado a mobília de lugar, tinham derramado bebidas em todos os lugares e tinham quebrado algumas taças de vinho.

Antes que ela deixasse a tribuna, Kiki Fournier foi perguntada pelo promotor se ela sentiu que Star Arvizo estava brincando quando ele colocou a faca nela, na cozinha. Kiki disse que ela sentiu que era para ser uma brincadeira, mas obviamente que Star estava “tentando estabelecer certo tipo de autoridade” com ela. Ela indicou que os meninos Arvizo eram inapropriados e destrutivos.

Os observadores no tribunal ficaram chocados quando eles escutaram sobre Star Arvizo empurrando a empregada de Michael. As pessoas estavam ganhando uma nova perspectiva sobre os Arvizos e com cada testemunha, Mesereau daria mais convincentes evidências, focando no ultrajante comportamento daqueles hóspedes, em particular.

Embora isto não tenha sido relatado diariamente nos noticiários, parecia que Michael Jackson foi a última pessoa a saber o que os meninos Arvizo estavam fazendo enquanto estavam em Neverland.  E quanto à acusação de que os meninos Arvizo estavam sendo mantidos cativos em Neverland, Kiki Fournier testemunhou que Neverland não tina cerca alta circundando a propriedade. A empregada riu da ideia de conspiração, dizendo ao júri que qualquer um poderia livremente sair de Neverland a qualquer hora. Não havia cerca de verdade ou portões em volta de Neverland. Na opinião dela, a ideia de que os Arvizos podiam ter se sentido aprisionados era simplesmente ridícula.


 

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