Prefácio


 
Prefácio

Quando eu observei a jornalista Aphrodite Jones pela primeira vez na Corte de Santa Maria, Califórnia, no caso de Michael Jackson, eu tomei outra direção. Eu não queria nada com a senhora Jones. A primeira vez que meus olhos viram a senhora Jones, eu lancei a ela um profundo e gelado olhar. Se um olhar pudesse matar, ela estaria enterrada.

Eu associava à senhora Jones a força destruidora da mídia internacional que estava fortemente determinada em ver Michael Jackson ser condenado e destruído. Nunca em minha vida ou carreira eu estive no meio de tão louca, desonesta e manipulativa informação frenética. Apesar da presença de muitos jornalistas honrados, o fantasma do lucro parecia assombrar muito do que era verdadeiro, preciso e acurado.

Aproximadamente um ano depois que Michael Jackson foi absolvido, eu inesperadamente encontrei a senhora Jones em uma galeria de arte em Beverly Hills, celebrando a publicação de uma série de esboços de alto perfil. No começo, eu tive uma leve discussão com a senhora Jones. Eu disse a ela que eu tinha assistido à televisão durante o julgamento de Scott Peterson e a observei agressivamente colocar sua cabeça no ombro do advogado de defesa, Mark Geragos. Isso apareceu em um dos noticiários sobre o julgamento de Peterson e, em minha opinião, pareceu horrível para o acusado. Nada disso aconteceria comigo.

A senhora Jones me disse que entendia completamente e respeitava muito meu estilo e minha abordagem na defesa de Jackson. Ela me disse que estava repensando a forma como a mídia tratou e relatou no caso de Michael Jackson. Ela sempre demonstrou que se sentia um pouco culpada pelo jeito como ela tinha sido conquistada pelo frenesi da mídia em retratar Michael Jackson da pior forma possível. Jones disse que estava pensando em escrever um livro verdadeiro sobre a realidade do julgamento de Michael Jackson e a distorção de muitas das reportagens da imprensa.

Quando Aphrodite Jones me perguntou se ela poderia me entrevistar para este trabalho eu estava cético. Minha parceira jurídica e co-defensora no caso de Michael Jackson, Suzan Yu, estava certa de que eu não deveria participar do projeto literário da senhora Jones. Porém, alguma coisa me dizia que a senhora Jones estava sendo sincera, corajosa, e profissional, em seu desejo de relatar o processo de Michael Jackson.

Eu fui entrevistado por Jones e revi alguns dos primeiros rascunhos do proposto livro dela. Surpreso pela sinceridade dela e seus esforços de ir contra o cerco da mídia a Michael Jackson e dizer a verdade, eu concordei em ajudar, pois esse projeto era honesto. Eu recusei-me a dizer a ela o que escrever e como escrever e não tenho nenhum interesse financeiro ou de lucro neste livro ou prefácio. Como uma pessoa que realmente acredita no poder e valor das ideias e divergências, eu aprecio pontos de vistas diferentes do meu, desde que eles sejam íntegros, inteligentes e de informações seguras. No caso de Michael Jackson, a maior parte das conclusões da imprensa era superficial, equivocada e interesseira. Eu sei do fundo do meu coração que Michael Jackson não era culpado de nenhuma daquelas terríveis acusações.

Meu propósito ao escrever esse prefácio é sublinhar o quão importante é relatar de forma honesta, como funciona nosso sistema judicial. Nos últimos quinze anos a sociedade americana tem sido crivada por informações da mídia sobre julgamentos de alto-perfil. Coberturas televisivas, documentários, reconstituição, séries de televisão, filmes e livros (ficção e não-ficção) tem encontrado uma audiência massiva quando o assunto é nosso sistema judicial. O montante da receita_ literalmente bilhões de dólares_ que foi gerada ao redor do mundo é impressionante. É fundamental que profissionais do jornalismo mantenham seus valores e ética no meio dessa grande explosão. Eu acredito que isso não aconteceu, na maior parte, no julgamento de Michael Jackson.

Quando mais de setenta policiais de Santa Bárbara invadiu a casa de Michael Jackson, o rancho Neverland em novembro de 2003, eu estava voltando a Los Angeles de muito necessárias férias. Eu estava no estágio final da preparação da defesa do ator Robert Blake, que foi acusado de matar a esposa. Poucos minutos depois de religar meu celular, depois de nove dias de descanso, eu comecei a receber ligações dos associados a Michael Jackson. Eles queriam que eu voasse imediatamente para Las Vegas e me tornasse seu advogado.

Eu recusei a oferta porque eu senti que não poderia cobrir de forma ética o caso de Blake e Jackson ao mesmo tempo. O julgamento por homicídio de Blake estava marcado para fevereiro de 2004 e iria consumir todo o meu tempo. Eu consegui libertar Robert Blake da prisão em uma audiência preliminar, quando todos os especialistas da América diziam ser impossível. Eu consegui que a conspiração contra ele fosse rejeitada em uma audiência subsequente e estava pronto para mudar a opinião do público em favor dele depois do interrogatório das testemunhas criminais em uma audiência televisionada. Eu estava convicto de que ele seria absolvido.

Três meses depois de ser convidado para me tornar advogado de Michael Jackson, na véspera do julgamento de Blake, Robert e eu tivemos um sério desentendimento, que o juiz do processo não poderia resolver. Eu me retirei da defesa. Aproximadamente cinco meses depois, Randy Jackson, irmão de Michael, ligou-me e perguntou-me se eu não reconsideraria. Eu conhecia Randy há anos, e nos encontrávamos socialmente, de vez em quando. Eu disse a Randy que eu estava livre e desejava encontrar Michael Jackson. Randy arranjou para que eu voasse até a Flórida com esse propósito e o resto é história. Todas as nossas vidas foram radicalmente mudadas pelo pedido de Randy.

Antes de entrar para o caso de Michael Jackson eu estava estarrecido, sobretudo, pelos amadores em torno da defesa. Os advogados deles estavam voando para Santa Maria em jatos particulares e pareciam estar se divertindo muito. Michael estava atrasado para seu primeiro comparecimento, marchou em cima de uma SUV para seus fãs e deu uma festa para a mídia, em Neverland, mais tarde naquele dia.

Um encontro com os conselheiros financeiros e jurídicos de Jackson, que nos noticiários locais eram chamados de “Dream Team” de Michael, foi realizado no elegante hotel Beverly Hills. Michael Jackson e seus advogados apareceram no programa “60 Minutos” com resultado desastroso, e os detalhes da proteção da “Nação Islã” a Jackson estava recebendo publicidade dramática na conservadora comunidade de Santa Maria. Eu não gostava de nada disso.

Eu decido acabar com tudo. Eu me opus à presença de câmeras e apoiei a ordem judicial de mordaça e vedação às peças processuais lascivas. Eu removi indivíduos provocativos da defesa, imediatamente ou gradualmente. Obviamente, pessoas em que eu não confiava ficavam de fora de encontros importantes e tinham acesso negado às importantes informações. Meu foco eram treze pessoas, o juiz e os doze jurados. Eu gostei da comunidade de Santa Maria, a qual meus instintos me disseram, seria justa com Michael.

A defesa de Michael Jackson tinha de lidar com três primeiros desafios: a acusação, a mídia e a legião de conselheiros medíocres que cercavam o vulnerável e inocente Michael Jackson. Eu estou feliz em dizer que nós tivemos sucesso em lidar com os três obstáculos.

A acusação gastou mais dinheiro e tempo tentando condenar Michael Jackson que qualquer outra promotoria na história. Nos início dos anos 90, o promotor Tom Sneddon convocou dois Grandes Júris para investigar e indiciar Michael Jackson. Os dois recusaram acusar Michael de qualquer crime. Na metade dos anos 90, o senhor Sneddon viajou pessoalmente a pelo menos dois países procurando por alegadas vítimas de Michael. Ele não encontrou nada.

Sneddon criou um web site no departamento de polícia de Santa Bárbara para informações sobre Michael Jackson e contratou uma firma especializada para cuidar do site. Isso foi um absurdo.

Em 2004, um terceiro Grande Júri foi montado neste caso e Michael Jackson foi indiciado. A acusação tinha nove especialistas em impressão digital neste caso_ mais do que eu tinha visto em qualquer caso de pena de morte_ as impressões digitais não deram em nada. Eles imprudentemente contrataram todos os conceituados especialistas em qualquer área, como reconstrução de acidentes, computação gráfica, DNA, considerações legais, finanças, criminalistas, telefones, acústica, sistema de segurança, abuso sexual infantil, psicologia, patologia e consultoria de júri.  Eles tiraram todas as paradas no esforço de bombardear o júri com qualquer concebido fato que pudesse convencê-lo a condenar Michael. Isso incluía contratar os consultores judiciais que ajudaram a promotoria a condenar Timothy McVeigh, Martha Stewart e Scott Peterson.

Ninguém nunca saberá quantas horas de trabalho dos empregados foram gastos pelos gabinetes da promotoria. Muitos julgamentos simulados foram conduzidos, e várias agências de execução, no mundo todo, foram contatadas.  Claro que tudo isso foi pago pelos contribuintes de Santa Bárbara, Califórnia.

Mais membros credenciados da mídia, do mundo inteiro, cobriram esse julgamento, que o número total de jornalistas que cobriu o julgamento de O.J. Simpson e Scott Peterson juntos. Nunca houve tal cobertura de um julgamento antes e provavelmente nunca mais haverá. Infelizmente, acreditava-se que enormes somas de dinheiro seriam feitas com filmes, programas, reconstituições e livros sobre a ascensão e queda de Michael Jackson. Porém, uma condenação era necessária para o sucesso completo de qualquer um desses projetos. Se Michael Jackson fosse enviado à prisão, isso geraria a maior cobertura midiática que qualquer outro evento na história. Bilhões de dólares estavam na balança.

Porque ele é a celebridade mais conhecida do mundo, Michael Jackson atrai um número infinito de “aproveitadores”. Isso inclui advogados e não-advogados. Ele é constantemente sujeitado a conselhos medíocres, de visão limitada de especialistas presunçosos sobre como se defender. As pessoas desejam dizer qualquer coisa que, eles pensam, os impulsionariam para dentro do evento; e lidar com esse mar de tolos era uma distração e um perigo.

Como exemplo, considere o papel da mãe dos acusadores no julgamento. Eu decidi muito cedo que ela seria o principal alvo de nosso ataque. Durante meu discurso de abertura, eu disse ao júri que provaria que a mãe tinha orquestrado aquelas falsas alegações. Tendo-a examinado por três horas em uma audiência prévia, eu sabia que ela seria um desastre para a promotoria durante o interrogatório da defesa Eu informei a todos os membros da defesa de Jackson de que nenhum esforço para dissuadi-la a depor para a promotoria deveria ser tomado.

Eu especialmente proibi todos de denunciá-la para o promotor de Los Angeles, quando eu descobri que ela tinha cometido fraude.  Sob as leis da Califórnia, ela poderia se recusar a testemunhar.

Apesar de minhas claras instruções, certos advogados, nenhum dos quais iriam examinar uma testemunha no julgamento, denunciou-a para as autoridades de Los Angeles. Como eu esperava, ela se recusou a testemunhar e isso fez com que a acusação levasse semanas para convencê-la a tomar posição no caso deles.  Tivesse ela aguentado firme, poderia ter se recusado a dar qualquer testemunho, segundo a Constituição da Califórnia. Isso seria um duro golpe em nossa defesa.

Eu não acredito que os advogados que a denunciaram queriam prejudicar Michael Jackson. Em minha opinião, simplesmente lhes faltavam visão e conhecimento. Eles queriam fazer parte daquele evento e tentaram parecer forte para um cliente vulnerável. Na verdade, eles não tinham nada a ver com o caso.

Felizmente, eu tinha dois excepcionais advogados no meu time: Suzan Yu e Robert Sanger. Embora nós tivéssemos diferentes formações, estilo e perspectiva, formávamos um bom time. Yu e Sanger estavam sempre focados em levar Michael Jackson à absolvição. Eles sabiam que era preciso trabalho de equipe. Não importava as diferenças que tínhamos, nós as resolvíamos de maneira sempre a focar uma vitória. Eu também, regularmente consultava minha querida amiga Jennifer Keller, uma brilhante advogada criminal do sudeste da Califórnia. Esses são os advogados que venceram o caso comigo.

Nós também tínhamos pessoal e assistentes muito profissionais. O investigador, Jesus Castillo e Scott Ross foram excelentes. Nós nos mantivemos longe da mídia e nunca permitimos que a atração do estrelato interrompesse nosso foco de defesa.

Este foi um caso onde tínhamos potenciais distrações por toda parte. Eu tinha observado advogados em outros casos se empolgar com a câmera e, em minha opinião, eles prejudicavam o interesse de seus clientes. Felizmente isso nunca aconteceu com Yu, Sanger e eu.

Eu tenho revisto o livro da senhora Jones e a cumprimento por seus esforços. Para todos que desejam saber o que aconteceu no julgamento de Michael Jackson, este é o livro. Ele explica claramente e detalhadamente por que um inocente e bondoso gênio musical foi absolvido por um júri conservador em Santa Maria, Califórnia. Justiça foi feita e eu estou orgulhoso por ter sido o líder da defesa de Michael Jackson.

 

Thomas Mesereau Jr.

Loas Angeles, Califórnia

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